Análise | Ori and the Blind Forest

Ori and the Blind Forest é um jogo desenvolvido pela Moon Studios e publicado pela Microsoft. Ori é um clássico Metroidvania, característica que pode ser vista principalmente pela evolução do personagem durante o jogo e pelo incentivo à exploração e experimentação que o título provoca. O jogo foi lançado em março de 2015 para Xbox One e Windows, e foi vencedor de diversos prêmios, como melhor direção de arte no The Game Awards 2015, e também foi vencedor nas categorias Melhor Áudio e Jogo do Ano para Xbox no evento Golden Joystick Awards, também de 2015.

Se você nunca tinha ouvido falar desse belíssimo título, dá uma olhada no trailer:

 

História

Em Ori and the Blind Forest, o jogador controla um guardião espiritual feito de luz chamado Ori, um dos muitos filhos da Árvore do Espírito, que protegia a floresta de Nibel. Durante uma tempestade, Ori se desprende da árvore e se perde na floresta, quando é encontrado e adotado por uma criatura chamada Naru. Por motivos que deixaremos propositalmente vagos para não estragar a história, Kuro, uma coruja que é a antagonista principal da trama, ataca a Árvore do Espírito e rouba sua essência, chamada Sein. Incapaz de proteger Nibel, a floresta começa a decair e Ori parte em busca de restaurar a luz em seu lar.

O jogo trabalha um tema recorrente e até clichê: a luz contra trevas. Mas os quatro anos de desenvolvimento e uma equipe extremamente atenciosa aos detalhes permitiram que a temática fosse muito bem explorada. Percebemos isso em inúmeros elementos do próprio jogo que trabalham constantemente com algum tipo de dualidade e também nos diversos simbolismos usados. O próprio nome do jogo é um indicativo da temática abordada. Ori and the Blind Forest pode ser traduzido para Ori e a Floresta Cega. Lembra que a Árvore do Espírito perdeu sua luz? Então, agora sem sua luz, a floresta está submersa na escuridão e portanto cega.

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Outro aspecto curioso é nome das personagens. Eles parecem muito criativos e diferentões, mas esses nomes não são à toa. Ori significa “minha luz” em hebraico; Kuro, a vilã principal, é uma coruja, um animal noturno, e seu nome significa “preto” em japonês. Sein, por sua vez, vem do alemão e pode ser interpretado como “existência”.

O jogo se passa completamente na natureza e nesse aspecto podemos ver a influência que a cultura da tribo norte americana Ojibwa teve no jogo. Eles foram os criadores do Apanhador de Sonhos, que aparece durante algumas cinemáticas iniciais e é o único elemento do jogo que tem qualquer relação com os humanos e daí vem seu destaque. O amuleto tem um significado profundo e que se conecta com a temática do jogo: de acordo com a tradição, ele deve ser pendurado sob o berço dos recém-nascidos e prende os sonhos e energias ruins, até que amanheça e a luz do sol os destrua.

Além disso, existe a questão metafórica por trás de tudo isso. Ori é a luz, manifestação da esperança enquanto Kuro representa as trevas, e é a manifestação do medo. Mas infelizmente, sem dar spoilers, a análise de como esse sentimentos se manifestam no jogo e na história acaba ficando muito reduzida. Fiquem atentos à um eventual especial sobre a metáfora do jogo!

Jogabilidade

E não é só na história que a Moon Studios demonstra a sua qualidade, cuidado e interesse em produzir jogos. As escolhas de jogabilidade adotadas durante o desenvolvimento foram essenciais para confirmar Ori como um dos melhores jogos lançados em 2015 e dos últimos anos.

Durante o jogo, você controla Ori, enquanto navega por diversos ambientes em um mapa de plataforma. Nesses mapas, você deverá enfrentar diversos inimigos e resolver inúmeros puzzles cada vez mais difíceis. O jogador inicia o jogo podendo apenas andar, pular e realizar um ataque básico, e suas habilidades vão sendo aprimoradas conforme avança pelo jogo.

Você possui 3 recursos fundamentais no jogo. Vida, que reflete quantos ataques você consegue sofrer antes de morrer; Energia, que é gasta para utilizar algumas habilidades especiais de Ori, e um terceiro chamado Spirit Light, que é algo semelhante ao que conhecemos como Experiência, e é utilizada para evoluir o seu personagem. Os 3 recursos podem ser aumentados ao encontrar alguns elementos, como os Life Cells, Energy Cells e Spirit Light, respectivamente.

Ao avançar, Ori aprende habilidades poderosíssimas, como pulos duplos, ataques potentes, a possibilidade de escalar paredes e até mesma uma habilidade inovadora chamada Bash. Essa mecânica permite que o jogador, ao utilizá-la próximo de um projétil, pare o tempo por um instante, e mire a habilidade. Após mirar, Ori é lançado na direção selecionada enquanto que o projétil é rebatido para a direção oposta.

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Com tantas habilidades, fica parecendo que o jogo será simples, mas na verdade a cada nova habilidade aprendida, cada vez mais será exigido do jogador. Os inimigos ficam mais poderosos, com habilidades mais complexas, os mapas apresentam desafios mais intensos e o jogador é posto à prova, tendo de utilizar todas as armas de seu arsenal para superar as fases. O level design do jogo é extremamente bem feito e refinado, oferecendo desafios sempre compatíveis com o poder atual do personagem e estimulando que o jogador, depois de descobrir novos poderes, revisite áreas anteriores para coletar aprimoramentos que antes eram inalcançáveis até então.

E como o jogo estimula a exploração dos seus diversos ambientes, vale ressaltar uma característica que faz dessa exploração menos cansativa: a movimentação do personagem. Você andará muito durante o jogo, afinal, é um jogo de plataforma, mas a parte interessante vem do fato da movimentação ser extremamente fluida e totalmente responsiva. Efeitos como inércia são bem sutis, o que garante ao jogador um controle bem forte sobre a movimentação do seu personagem, fazendo com que o jogador possa mover Ori de uma maneira bem simples e sempre na direção que deseja. Além disso, a dinâmica de pulos simples, duplos, triplos, escalar paredes e a utilização da habilidade Bash tornam a movimentação do jogo extremamente divertida e nem um pouco monótona.

Uma característica muito interessante do jogo é que, além de ter controle total sobre a movimentação do personagem, o jogador também tem a liberdade de decidir onde serão os seus Save Points. O jogo não salva o jogo para você, pelo contrário, é o jogador que deve gastar uma pequena quantidade de Energia para criar um ponto chamado de Soul Link, que fará com que o jogo seja salvo nesse local e permitirá ao jogador gastar seus pontos de experiência para aprimorar suas habilidades.

E falando mais sobre esses aprimoramentos, você tem acesso a uma árvore de skill bem simples, onde você pode escolher entre 3 caminhos diferentes para aplicar os pontos de evolução do personagem. Existe um caminho ofensivo, com habilidades que aprimoram o ataque e as magias ofensivas do personagem, um caminho de economia de recursos, que aumenta a sua regeneração de recursos e diminui os custos das habilidades, e um caminho utilitário, que dá ao jogador um conhecimento maior sobre onde se localizam os recursos escondidos no mapa. Fica então a seu cargo decidir se precisa de um poder ofensivo maior, se você está constantemente sem recursos ou se acha que deixou passar muita coisa pelo mapa.

Gráficos

Dizer apenas que Ori and the Blind Forest é um jogo lindo e de encher os olhos não faria jus ao título. Em termos visuais, ele é uma obra prima. Todo o cenário e seus elementos foram desenhados à mão, o que dá um tom lúdico ao game que é perfeitamente contrabalanceado com a paleta de cores. O gráfico e os tratamentos dados às imagens ajudam a enriquecer a experiência do jogador pois auxiliam no desenrolar da trama, dar vida à floresta, facilitar a jogabilidade e são usados de maneira exemplar para explorar o dualismo que guia a narrativa.

Além de servir de suporte para que o jogo aconteça, a floresta é quase um personagem secundário e é por isso que teve tanta atenção em seu desenvolvimento. É possível notar na tela diversas camadas que compõem os múltiplos níveis da floresta. Cada elemento presente nessas camadas se move de maneira muito orgânica, o que cria uma sensação de unicidade da floresta e criam um ambiente super dinâmico mas que nunca subjuga visualmente os elementos envolvidos nas mecânicas principais. Além disso, essas camadas estão sujeitas à efeitos de pós-processamento diferentes que fazem com que o foco seja o tempo todo colocado sobre Ori. Essa preocupação com o foco na jogabilidade também se manifesta na interface minimalista.

 

Da mesma forma que o ambiente é rico em detalhes, também é rico em sua paleta de cores. Elas são usadas de forma brilhante para acompanhar o momento emocional da história, bem como auxiliar na jogabilidade. As cores acompanham o clima de fantasia do título mas sem nunca cruzarem a linha do exagero e os filtros de coloração aplicados em vários momentos do jogo ajudam a criar uma sensação única em cada área, promovendo a ideia de avanço no game.

Sonoplastia

Na parte sonora, o jogo evita adentrar em terrenos muito complexos, investindo em simplicidade. São adicionados poucos efeitos ao áudio, deixando-o mais simples e fiel possível ao ambiente fictício criado. É possível notar um certo eco em alguns sons devido ao fato de boa parte da história ocorrer dentro de uma floresta imensa, o que segue a ideia de manter o universo consistente, principalmente com os elementos visuais e narrativos apresentados. A quantidade de sons ambientes é alta, o que é muito adequado já que o jogo se passa em uma floresta. Além disso, as pistas auditivas que auxiliam o jogador a se locomover no mundo foram implementadas manualmente no mundo de Ori e sua execução beira a perfeição.

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A música presente no jogo é maravilhosa. O tom melancólico durante a história, refletindo o caráter triste do enredo, e o ritmo acelerado durante fases tensas do jogo conferem a imersão certa para o jogador. Uma característica muito interessante e positiva da música ocorre, por exemplo, em fases extremamente difíceis, como os momentos em que Ori está tentando escapar de algum desastre. Essas fases costumam ser extremamente tensas, dinâmicas e desesperadoras, mas o interessante é que a música não para. O contrário acontecia em Limbo, por exemplo e isso era muito frustrante em algumas partes. Mesmo que você morra, a música de fundo não para e recomeça, ela continua no loop em que ela está executando, ou seja, o jogador não sente que o jogo está parando, mas sim que ele ainda está acontecendo. A tensão continua no ar, o jogador continua agitado e se sente estimulado a continuar tentando passar a fase até que essa música pare de tocar.

O pouco de narração presente no jogo é feito através de uma língua desconhecida o que é bem interessante porque é coerente com o universo fantasioso inventado para o título. Apesar disso, a narração é boa e certeira pois agrega valor à questão da consistência interna.

Conclusão

Ori and the Blind Forest é um título fantástico que com certeza vai resistir ao teste do tempo e se tornar um clássico. O jogo proporciona várias horas de diversão e desafios, além de contar com uma história emocionante. Com certeza os fãs do gênero vão adorar e aqueles que não são tão ligados nesse estilo de jogo ainda devem dar uma chance, porque o jogo é simplesmente incrível.

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